quinta-feira, 14 de abril de 2011

A cabelereira:Charuto de repolho

A família da minha mãe era muito pobre, pobre, pobre, de ma ré, ma ré de si! Meu avô, um policial básico, ficou viúvo prematuramente, com quatro filhos para criar! Minha mãe, para ajudar na renda familiar, tornou-se a cabelereira particular das irmãs do meu pai, que era muito rico. No meio dessa história, eles se conheceram, namoraram e se casaram.

Por natureza e profissão, mamãe sempre gostou de cuidar dos meus cabelos, quando eu era menina e moça. Eles, na maior parte do tempo, eram longos, louros e cacheados. Ou seja, o melhor dos mundos cabelais. Então ela adorava cuidar deles ( eu  acho, né?).  De vez em quando, ela aparava as pontas e só. Era um tal de lavá-los com sabão de coco (não existia shampu na época), aguar com vinagre ou chá de camomila para clarear,  enrolar em papelotes para cachear mais e secar ao sol, para incorporar o devido brilho solar. E se eu queria me rebelar ou radicalizar, ela, chorosa, cortava meus cabelos curtinhos, tipo Joãozinho ou Rita Pavoni. Mas cortava com as suas prórpias mãos. Confesso que eu sempre me arrependia de cortar meus cabelo tão curtos. Pouco pela estética e muito por perder, ainda que temporáriamente, os cuidados da minha mãe com eles.

Aos 16 anos comecei a cortar meus cabelos com um profisional, o Lins, que me acompanhou por um bom tempo, pelo menos uns 30 anos. O corte dele valorizava os meus cachos e as luzes, que ele fazia maravilhosamente bem, adiaram por muito tempo o uso de tinturas sobre os meus cabelos brancos.

Minha mãe, por sua vez, voltou a cuidar dos cabelos das minhas  irmãs. Ela, atualmente, tinge e corta muito bem os taizinhos. Mas como eu sou metida e mulherzinha demais para me submeter às artes da mãe, sigo com a Branca. E vamos combinar,  a Branca é talentosa e profissa por demais. Ela sabe dar o devido valor aos meus cachos, ainda que tingidos, secos e desestruturados e ao meu status de uma mulher madura que pretende ter estilo.

Eu, como minha mãe, sempre gostei, de lidar com cabelos. Brincava de pentear a Barbie das minhas filhas,  cortava os cabelos das minhas crianças, das minhas jovens, dos seus namorados, do meu pai, da minha mãe, irmãs,amigas e das vizinhas do Retiro, quando morei lá por uns tempos.

É o seguinte, quando eu morei no Retiro, nos idos de 1989, a nossa casa, aos  sábados, se transformava num verdadeiro "Salão de Beleza". E eu era "a cabelereira", na maior metideza e orgulho.

Mas a história da cabelereira, que era a minha mãe, veio à tona, para lembrar do seu encontro com aquele que seria o seu marido,o meu pai e, sobretudo, para ressaltar os predicados do meu avô materno na culinária. Meu avô Grossi, a quem eu tinha que pedir a benção e esconder dele,o cigarro e mini saia, era rígido, careta, impertigado e lindo. Ele tinha 32 irmãos (é verdade, 17 da mãe e15 da madrasta).  Ele era tão presente e digno, no entorno dessa história de privações, que fazia para seus filhos orfãos de mãe, receitas deliciosas e nutritivas, megabaratas, na medida em que o seu pouco dinheiro podia comprar. Nós, netas, netos e bisnetos pudemos saborear tais delicias.

Dentre elas,destaco aqui o charuto de repolho, que para mim é uma preparação árabe das melhores.

Eu separo as folhas de um repolho, fervento em água até amolecerem. Enrolo, nelas ( como se fosseum rocambolinhos) uma mistura bem misturada de 3 xícaras de arroz cru, 500 g de patinho moido, uma cebola picada, dois dentes de alho picados, sal, pimenta do reino. Coloco arrumadinho, um rolinho ao lado e em cima do outro,em uma panela grande e cubro com um execelente molho de tomate como já descrevi aqui, com uns dois copos de água, de modo a cobrir bem os rolinhos e rego com bastante azeite de oliva. Cozinho em fogo médio, com a panela tampada, por uns 30 minutos.

Trata-se de um prato completo,sendo desnecessário qualquer acompanhamento que não seja um bom fio de azeite.

4 comentários:

  1. oi Claudia
    Vc. esqueceu de comentar sobre o charuto de folha de uva que era feito na nossa casa com as folhas da parreira que tinha no corredor do lado da casa dos Mata Machado.Lembra?

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  2. Uai Flavinha. Me lembro da parreira, sim. Mas não me lembro do charuto. E sabe que eu aprecio mais o que é feito com folha de uva? bj

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  3. Ei Cláudia !
    Resolvi mandar mensagem para seu endereço porque não há como entrar no seu blog. Uma hora dessas, manda de novo o caminho das pedras...
    Obrigada pelos elogios.
    Achei ótimo esta sua quedinha por cabelos...e sua mãe ...acho que você nunca me contou...Meu avô materno era barbeiro e tinha dois filhos cabeleireiros que eu não conheci. Meu avô, quando morreu eu tinha 4 anos. Só sei de histórias, não tivemos convivência.
    E, hoje, infelizmente, não tenho mais a quem perguntar...

    Branca
    Beijo grande

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  4. Gente postei aqui acima, por motivos que ela mesmo coloca, parte da mensagem que recebi da Branca, com o aval dela, é claro. O resto está no post do meu protesto...

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