segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Sem sentido

Todos os dias eu faço um esforço para buscar atividades para fazer o que sempre gostei. Encontro poucas. A morte da filha desfez o sentido de quase todas.

Agora mesmo, estou observando a minha gata catando os enfeites da minha árvore de natal, que eu só montei para a ceia de natal. Sinto um ímpeto de impedi-la. Mas, ao fazer o primeiro movimento para  sair daqui desta escrita e agir, me pergunto: prá quê? deixa ela destruir tudo!

É assim com quase tudo que faz parte do meu cotidiano. Ou seja, passo os meus dias reclusa, des-pensando, jogando, assistindo séries e filmes.

Recentemente, me deparei, na casa da minha caçula, com um porta guardanapos de florzinhas de crochê muito lindo. Pensei: vou fazer. Vou usar e aprimorar os ensinamentos da vovó Margarida que me aplicou neste oficio tão delicioso. Trouxe uma amostra, pesquisei na net os passos para crochetar as florzinhas. Afinal, eu devo ter uns 20 rolos de linha de diferentes cores, comprados há anos, exatamente para tecer e produzir belezas.





Ainda não comecei a produção. Prá quê?

Me lembro que o meu primeiro escrito daqui falava sobre o tecer.

 Por vezes, me maquio, coisa que eu adorava fazer. Acumulei zilhões de maquiagens de excelente qualidade. Faço isto não por prazer, como antes, mas por respeito àqueles com que vou encontrar. Quero que os meus amados acreditem que eu ainda vivo. Afora isto, prá quê?

Cuido da minha saúde básica, pois acredito que o sofrimento da alma piora muito quando não se tem saúde física. Dói mais. Afora o básico, prá quê?

Para voltar a escrever, coisa que eu sempre adorei, mas travei, me inspirei um pouco na diário que estou lendo do Bóris Fausto, que trata do luto dele pela morte da esposa. Não quero escrever um diário. Ainda não sei o que quero escrever.

Diferentemente dele, que visita o túmulo de Cynira frequentemente, eu nunca mais voltei ao túmulo da filha( e nem quero, por enquanto), jamais levei flores para ele (o túmulo). Para mim ele é o lugar dos ossos dela. Não o lugar da filha. Não quero conviver com tais ossos

 Ela, a minha filha, fica aqui, nos meus sonhos e pensamentos. Nas minhas recordações. Não quero me esquecer dela, quando viva.





quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Olhos nos olhos

Tenho sonhado com os amados que partiram.

O pai, aparece no jardim do Retiro, cuidando das palmas e das rosas, suas flores preferidas. Meia dúzia de galinhas Isa Brown o seguem pelo caminho. Por vezes ele me olha e sorri. Por vezes ele me abraça e chora comigo.

A mãe sempre está sorrindo de um jeito calmo. Não se aproxima de mim. Não chora. estende as roupas no varal. Por vezes, deito com ela de mãos dadas, na cama de casal da minha infância, onde eu dormia entre os dois: pai e mãe.

A filha sempre está sorrindo. Sempre está distante. Grito o nome dela e ela não me olha. Continua sorrindo para a paisagem. Me aproximo, peço permissão para tocá-la. Sua imagem embaça. Por vezes vira uma fotografia, por outras vira uma estátua com olhos de zumbi.

Num dos sonhos ela não era ela. Era uma sósia dela. Chorei no sonho de tanta saudade de nós duas. Pedi a moça para ser a double da filha. Ela topou. Mas ela tinha olhos escuros! Propus que ela usasse lentes cor do mar. Ela topou.Acordei e me pus a chorar.

Se perder no olhar da filha é uma experiência indescritível de amor. Vivi isso com a minha filha viva. A outra filha estava ali entre nós, no começo dessa vivência. Mas não o seu olhar e como eu desejaria me perder naquele olhar!

Me encontrei nos olhos da filha. Eu vi naqueles olhos, o meu olhar. Eu era ela. Ela estava em mim. Penso que as mães e filhas, que também participaram desta experiência, se emocionaram como eu.

A montagem do mosaico é de Simone Pazzzini e as fotos, do Projeto "Devastação" de Paula Huven (BH, maio de 2014), do qual tive a honra de participar.









quinta-feira, 26 de junho de 2014

Áureos tempos, novos tempos...

Diria que nos meus áureos tempos, esta semana seria de muita agitação, produção, inspirações e alegrias.

Afinal, fecho mais uma década de vida; meu neto chega do exterior, para passar férias comigo e estamos em período de copa do mundo no Brasil.

Diria que eu estaria preparando uma festança na casa perdida, como a ajuda dos 3 filhos queridos. Estaria repleta de pedacinhos de felicidade.

Talvez, além dos arranjos de flores e dos petiscos, que eu gostava de fazer pessoalmente, teria novas idéias para a festa, após uma extensa pesquisa e alguns experimentos.

Eu compraria um sapato, um batom e um perfume novos.

Nos áureos tempos, eu contrataria um grupo de chorinho para animar a festa, como já fiz tantas vezes. Talvez até cantasse um pouco com eles.

Nos atuais tempos, esses desprovidos de um quase tudo, vou preparar uma feijoada completa.

Quero receber meu Nênes com alegria, enfrentar o fechamento da minha década com dignidade e torcer para o Brasil, com força.

Vai daí, que no novo lar, onde eu reaprendo a viver, é necessário ter alguns pedacinhos de felicidade.

Claro que comprei flores para um arranjo singelo. Vejam só: Astromélias!






segunda-feira, 2 de junho de 2014

Pedaços de mulher: ciao ciao bambina

Acordei com vontade escrever ...

Descobri que sabia escrever quando iniciei este blog.

Antes, eu escrevia bem meus texto técnicos. Aqueles que não falam de mim, de uma certa forma.

Há meses que eu não passo por aqui para falar de mim, de uma certa forma e nem de nada ou ninguém.

Não existe inspiração e nem desejo.

A dor não me permite enxergar a vida.

A dor me rouba as palavras.

A dor me fez desaprender a cozinhar.

Não me interesso mais por meus sapatos, meus batons ou meus perfumes.

Não acho mais graça nas coisas engraçadas da vida de uma mulher.

Perdi um tanto de pedaços da minha vida de mulher.

Surgiu um buraco em mim, que eu luto, no meu luto, para não cair nele. Só fico na sua borda.

Por vezes caio dentro do buraco. Mas volto para a borda.

É necessário reencontrar aqueles meus pedaços ou descobrir partes novas em mim.

Os pedaços possíveis.

Pois aquele maior, foi embora para sempre.

Tento me despedir. como tentou a amiga Si, no video abaixo compartilhado, mas não consigo.

ciao caio bambina

Video editado e enviado por Simone Pazzini



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