segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dez-em-organização: Cozido de Bacalhau com Feijão Preto

Perdi meu sono, buscando localizar uma receita de bacalhau, anotada a ermo, em algum pedaço de papel solto,  a fim publicá-la, ainda nesta Semana Santa. Nesse processo, me deparei, mais uma vez, com minha imensa desorganização, a qual, já sei, está sempre associada à minha grande dificuldade em desapegar, dificuldade essa já comentada aqui.

Nesta batalha (que significa: revirar várias gavetas e estantes, em vários comodos da casa), encontrei nos meus guardados inúmeros cadernos, semi usados, cujas páginas em branco, eu jamais pensei em lixar, para não desperdiçar as pobres das árvores usadas no processo de confecção das tais. Mas, confesso, estes cadernos são hoje verdadeiros bagaços. Achei outros tantos, do tipo brochurinhas pautados, de capa mole, bem vagabundos, que me foram ofertados pela papelaria, na qual eu fazia as compras de material escolar dos meus filhos, há mais de 15 anos atrás. Esses, eu usava para  fazer anotações de várias categorias de assuntos, do tipo : dicas de culinária, idéias, receitas da Pat, projetos profissionais para a Ciça, poesias, letras de canções, dentre outros tantos.

Me deparar com estes escritos, foi um verdadeiro achado que explicitam os meus interesses, que habitavam a minha cabeça naquela fase da minha vida. Contudo, suas folhas trazem anotações totalmente inútéis, posto que estavam esquecidas, lá no fundo da estante do escritório, há anos, sem jamais terem sido consultadas. Criando traças.

Numa das gavetas investigadas, encontrei jogados, inúmeros papeis de carta (vários, das coleções das minhas filhas, dos seus tempos de garotas), envelopes, cartões de natal, de aniversário, postais. Todos em branco. Mas também, estavam alí, esquecidos e distantes de qualquer olhar interessado. E mais, em outra gaveta achei várias agendas nunca usadas, cadernos de capa dura, virgens e, na seguinte, inúmeros papéis de presentes e fitas para embrulhos, aprisionados por minha mania de "guardar para usar um dia", em um presente bem original.

Ou seja, além da bagunça total, trago em casa uma pequena papelaria.

Decidi dar uma organizada geral neste compartimento da casa. Pedi a Lene, minha fiel escudeira, que retirasse tudo da estante, limpasse toda a poeira e colocasse tudo num container de plástico. Pedi para fazer o mesmo com as inúmeras caixas de camisas de papelão duro, com elásticos (tipo as da Richards), as quais também venho acumulando, inutilmente, há anos. Descobri, dentro das quais, amontoados de pedaços de plástico bolha, que "um dia podem servir para embalar algo".

Ela, na melhor das inteções, tentou me convencer, de imediato, a me desfazer de várias coisas. Mas, como eu sou um pessoa apegada a utilidade dos objetos e às suas histórias, me neguei veementemente, exigindo que ela não me pressionasse. Argumentei: preciso pensar, decidir, selecionar e me acostumar com essas perdas.

Observação: nestas horas, a Lene olha prá mim e sorrí, somente e lindamente.

Pelo menos, os restos dos cadernos bagaçados, eu decidi doar. Além disso, dei uso às caixas vazias, lhes conferindo títulos de função, tais como: cadernos de lembranças; papéis de carta, cartões e envelopes; agendas e caderninhos virgens; cadernões de capa dura; fitas papéis de presente. Organizei as caixas, devidamente ocupadas por tudo que achei "perdido", de acordo com seus títulos, numa pequena parte da estante. Esse processo liberou os espaços de duas gavetas, duas prateleiras, duas cestas e um organizador de plástico. Putz!!!

Temo ter conseguido esses lugares para acumular mais tranqueiras. Será? Cruz credo, sai de mim...

E é claro, dentro de um dos caderninhos investigados, estava a receita que eu procurava,  o motivo do início de toda esta movimentação: o simples e fantástico Bacalhau da Lelena.

Quando me deparei pela primeira vez com esta preparação, fiquei maravilhada.  Não apenas pela audácia na harmonização dos ingredientes, mas também pela particularidade na maneira de serví-lo. Já ofereci tal prato várias vezes aqui em casa e é uma unamidade: "um dos melhores bacalhau, que já experimentei".

Para 6 a 8 pessoas, eu uso uma banda de bacalhau do Porto ( 2 k, mais ou menos), dessalgado por dois dias (em geladeira, trocando a água, umas 3 vezes ao dia). Na última troca, substituo a água por leite integral, para laminar os files, quando esses estiverem cozidos. Tiro a sua pele, não deixo qualquer espinho, corto em files e fervento os mesmos neste leite, com folhas de louro ( umas 2, grandes). Retiro os files aferventados e reservo.

Neste mesmo leite, eu fervento 4 batatas inglesas, 4 batatas doces e 500g de mandioca, todas cortadas em rodelas de 1 cm, até ficarem um pouco cozidas, mas bem duras, ainda. Reservo.

Em uma panela, com seu fundo coberto com azeite, eu coloco uma camada das batatas e mandioca, cenoura descascada e cortada em fatias; uma segunda camada de files de bacalhau; outra de cebolas em rodelas com um dente de alho picado e folhas de repolho rasgadas. Rego com azeite e salpico sal, somente depois de experimentar os pertences ( para não salgar mais o que pode estar salgado). Faço outra leva de camadas igual ( batatas, cenoura, bacalhau, cebolas, repolho).

Rego tudo isto com um vidro de leite de côco e com urucum (colorau) dissolvido em azeite aquecido em fogo baixíssimo com uma xícara de azeitonas protuguesas. Prefiro a semente do urucum inteira aquecida em, azeite e coada.

Cubro tudo com folhas de couve, tampo e cozinho em fogo baixo até que a cebola que está por cima, fique translúcida e macia. Vejam a belezura na imagem que a amiga Ju produziu.



Sirvo com arroz e feijão preto refogado no toucinho defumado frito, alho, sal e louro. Parece estranho, mas acreditem, é de ajoelhar para comer e agradecer depois...

Eu não tenho imagens desta receita e nem encontrei na internet (é muito exclusiva). Então, vocês terão de arriscar e experimentar. E convenhamos: bacalhau, mesmo dando errado, é uma delícia.

Dica; Já devo ter repassado esta dica em algum post, mas vou repetir: bacalhau tem de ser de boa qualidade, mesmo para as preparações em que ele é picado e muito misturado. Em bandas, eu opto pelo pedaço mais espesso, do qual sairá um file mais alto. Mas atenção: quanto mais espesso for o file, mais demorado para dessalgar. Sugiro ir experimentando micro fiapos das suas partes mais grossas, ao longo do tempo do dessalgue. Se estiver salgado (a única coisa que estraga uma receita de bacalhau) é só diminuir o periodo de trocas da água, intensificando a sua hidratação.

Um comentário:

  1. Fico a pensar, publiquei uma das mais valorosas receitas que sei fazer. Aproveitem!

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