terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sabores e sons da cidadania: spaghettini ao alho e óleo do sul da Itália

Já discuti algumas vezes , neste blog, sobre a minha fissura por sabores que julgo básicos, como aqui, numa postagem que reverencia a maravilhosa cebola. Tenho este defeito ( ou qualidade), não consigo iniciar qualquer preparação salgada, sem usar a tal da cebola.

E nem sem o alho, que antes de todos os temperos, é o meu preferido. Concordo em viver sem o sal, mas sem o alho, não vai dar. Sou destas que, ao me deparar com um frango a passarinho, por exemplo, comete aquela grossura de catar, vorazmente, todos os pedacinhos de alho, bem fritinhos, esquecendo-se do frango e sobretudo, dos demais comensais.

Minha filha, coitada, passou um ano na Bélgica, sem tais temperos. A dona da casa em que ela morava não suportava nenhum dos dois ingredientes.  Digo "coitada", porque tenho a convicção de que, saborear salgados preparados sem alho ou cebola, ou sem nenhum dos dois, é se privar do exercício da cidadania brasileira/mineira (e também da italiana). Afora que, convenhamos, dispensa-los, ao meu ver, é banalizar a essência de qualquer boa culinária. Creio que para a minha filhota, sentar-se à mesa para se alimentar no lar Belga, deve ter sido um verdadeiro suplício.

Neste último fim de semana, em uma noite carioca com amigas, me esbaldei com um excelente spaghettini ao alho e óleo, que me foi oferecido  por uma amiga de origem italiana. Tal prato é uma imensa reverência ao alho.

Mesmo tendo me alimentado desta massa prática, gostosa e barata, exaustivamente, desde a minha infância, o que a Ana C. preparou, estava sensacional, por sua simplicidade e delicadeza em sabor. Aprendi com ela que não se deve servir tal prato com queijo parmesão, para esse não brigar com o alho, que no caso é o "rei da festa". Mesmo adorando um bom parmesão, devo concordar com ela. Massa, azeite e alho formam um trio perfeito em combinação de sabores, em que nada mais falta.

Ao comentarmos sobre a delícia do prato, a Ana veio trazendo de sua memória, a experiência que teve no sul da Itália ao experimentar tal preparo. Lá, ele foi oferecido de uma forma mais rica, com anchovas e com migas ( pão dormido ralado), fritas no azeite para impor crocancia. Uma harmonia indiscutível. Adorei discutir e explorar com ela tais lembranças, apreendendo. Faria tal prato bem "avon", tal como descrevo a seguir.

Nesta versão, para 6 pessoas, cozinho um pacote de spaghetti bem fininho (número 3, por exemplo), em 5 litros de água com uma colher de sal grosso. À parte, pico 3 dentes de alho, bem fininhos que são fritos em 1/4 de xícara de azeite comum quente, no qual foram amassados dois filezinhos de anchovas. Agrega-se tal mistura à massa, já cozida, escorrida e quente. Por cima espalha-se as migas de duas fatias de pão dormido ralado, fritas em 1/4 de xícara de azeite.

Dica: Vejam aqui outra receita "rica"de massa com alho e óleo. Trata-se de um verdadeiro e riquíssimo "Coringa". Aquele facinho, que dá certo em qualquer situação.

Ao voltar para BH, depois deste ótimo fim de semana, me deparei com um aeroporto fechado, num verdadeiro caos. Esperei umas 6 horas para conseguir embarcar. Neste desencontro, me encontrei com o Yamandú Costa, com seu violão nas costas, que estava na minha mesma situação. Pensei, vou pedir para ele tocar... Ele leu meus pensamentos, sentou-se no chão da sala de embarque do Santos Dumont, com seus ótimos músicos e começou a tocar. Uma delícia! Claro que eu fotografei a cena. Vejam só.


Só assim mesmo, apreciando a beleza das composições dele e a sua grande interpretação, foi possível suportar. Nós passageiros, simples mortais, agradecemos.

Pegando a deixa, posto ainda uma grande interpretação dele com o Dominguinhos do Doce de Coco do Jacó do Bandolim, que eu adoro!



Sabores e sons da minha cidadania!!!

4 comentários:

  1. Demais Chef Claudia...adorei o post, a receita e o concerto no aeroporto. saudades. nos falamos. bjs

    ResponderExcluir
  2. Dudu, saudades também. Bora executar tal delícia juntos?
    bj

    ResponderExcluir
  3. muito bom, mesmo, Cláudinha - receitas, reflexões e poesia. bjins. elisa.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...