quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O pão perdido: ovos mollet e rabanada recheada

Além de acha-la politicamente incorreta, eu me angustio com a atitude de jogar fora alimentos bons, ou mesmo de perde-los, por sua degradação ou ruindade, decorrente do exagero nas minhas compras, ou das preparações e conservações inadequadas ou, mesmo, da minha incompetência em saber escolhe-los ou prepara-los.

Nesse contexto, tenho que destacar aqui o meu entusiasmo pelas culinárias italiana e francesa, cheias de criatividade em dominar as formas de conservação de alimentos para o inverno (embutidos, geleias, frutas e ervas secas, por exemplo), a utilização desses ingredientes e os de época e a invenção de receitas com ingredientes inusitados, mas disponíveis. E isso tudo com muito sabor e saber... É história vivida em situações extremas, de inverno agressivo, de guerras. Por questão de preservação dos povos daqueles mundos, tinha que ser assim...

Bem, voltando a minha alma brasileira, aprendi com a minha mãe a arte do aproveitamento dos alimentos e a do fazer render (o tal de "botar mais água no feijão"), sem conferir a eles qualquer razão para menosprezo, como exemplifico aqui. Mamãe era de origem humilde como já comentei aqui, mas finíssima e abençoada por sua inteligência e sapiência. Na época das dificuldades, ela era capaz de fazer uma deliciosa "sopa de pedra" com alto valor nutritivo e altíssimo nível gastronômico.

Era assim que em minha casa não existia qualquer "pão perdido". Eles eram usados para fazer deliciosas torradas, pudins de pão, farinhas de pão  e rabanadas. Isso se... os pães sobravam.

Pausa para o meu privilégio: mamãe vive até hoje, que nem um vinho que se bebe maduro, melhor a cada dia.

Neste último fim de semana saboroso em Sampa, ao almoçar no Le Jazz Brasserie, um adorável restaurante francês, situado em Pinheiros (agradável ambiente, com boa carta de vinhos, excelente comida e preços razoáveis) me encontrei com os  tais "pães perdidos", que se mostravam fulgurantes desde o prato de entrada, até ao da sobremesa. Vejam só!

Os meus  deliciosos ovos mollet, servidos como entrada, eram semi cozidos inteiros, empanados com pães dormidos/perdidos, esmigalhados e fritos. Foram apresentados sobre um salteado de cogumelos e acompanhados de uma torrada de um pão de forma... perdido (imagem abaixo).


Minha deliciosa rabada gratinada, servida como prato principal, era crocada em uma farinha de pão perdido, amanteigada ( receita a ser apresentada oportunamente) 

A melhor sobremesa pedida na mesa, intitulada "Pain Perdu", razão da minha inspiração de hoje, destacou-se por sua simplicidade e sabor . Diria que tal "Pain Perdu" é uma especial rabanada, preparada como um "sanduíche", feito com duas fatias de pão de forma dormido/perdido, espremidas, sem casca, sobre uma geléia caseira de qualquer fruta vermelha. Ele é levemente afogado em leite açucarado e em ovos batidos . Esse doce "sanduíche" é grelhado dos dois lados, em pouca manteiga, até dourar( imagem abaixo) e, depois, secado em papel absorvente. Na montagem do prato, eu o corto na diagonal, formando dois triângulos, salpico sobre ele, açúcar de confeiteiro e sirvo com sorvete de baunilha ou um creme inglês.  Huuummm! 



Para o ovo mollet, eu cozinho 1 ovo caipira com casca, em água fervente, com  uma colher de sopa de vinagre (para manter a casca inteira), por 5 minutos, em fogo baixo. Passado o tempo, retiro o ovo da água fervente e o coloco em vasilha com água gelada, a fim de interromper o seu cozimento. Depois de frio e seco e na hora de servir, eu descasco o ovo delicadamente, passo-o por farinha de trigo, ovo batido e farinha de pão perdido. Frito tal empanado,  por imersão em óleo, por alguns segundos, até dourar. Retiro e coloco sobre papel absorvente.

Sirvo tal delícia sobre cogumelos de Paris, lavados, picados e salteados em uma colher de sopa de manteiga, que depois de amaciados são regados por uma colher de salsinha, um fio de azeite, uma pitada de pimenta do reino e outra de flor de sal (ou sal normal mesmo).


Eu que adoro ovo, ajoelho e agradeço!

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