segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Canteiro de obras com Raul

Há meses venho resistindo ao canteiro de obras  que invadiu o entorno da minha casinha.

Cruzes! Tive de postergar todos os meus projetos de revitalização da casa, posto que vivo, quase sempre, envolvida por uma poeira fina de filito, que transpõe as minhas janelas fechadas. Certamente, sob tais condições, eu perderia boa parte do meu esforço em revigorar o meu lar. É sujeira certa para quaisquer pinturas, móveis, obras de arte... Em tais condições, o meu jardim está mais parecendo com uma faixa de domínio de estradas de terra do que com o meu querido jardim doméstico.

Cruz credo!

Num dia destes, cheguei em casa muito cansada. Estava a fim de olhar para o céu e relaxar, como sempre fiz por aqui. Porém, naquele momento, me vi envolta por uma nuvem de cinzas, tais como as expelidas por um vulcão... poeira de filito, gerada pela obra vizinha. Eu não via o céu, um horror!

Na manhã seguinte me encontrei com as minhas plantas enegrecidas e sem brilho. Os meus móveis estavam foscos e cinzas. Pior, tive que lavar de novo a roupa limpa, que estava secando no varal da área e que se mostrava completamente empoeirada. Precisei trocar todas as toalhas de banho, as quais haviam sido repostas no dia anterior. Desmarquei um almoço entre amigos aqui em casa, no feriado, posto que sob tantas "cinzas" eu não teria qualquer condição de receber ninguém.

Engolido isto, na primeira oportunidade, não tive dúvidas, trouxe para a minha casa o gerente da obra vizinha. Lhe mostrei, contrariada, todo o estrago que eles haviam feito. Ele ficou envergonhado. Eu tenho a sorte de ter como empreendedor da obra mais próxima, uma empresa séria, civilizada e atenta. Ela me atende sempre que eu reclamo, ainda que dentro de suas precárias possibilidades.

Vai daí que os horríveis ruídos das máquinas, como os da grua, que lembram um grampeador gigante, foram excluidos dos meus sábados. Por sua vez, as perfurações necessárias à contenção dos terrenos vizinhos, agora são realizadas sob aspersão de água, reduzindo a poeira.

Putz, por aqui os desconfortos melhoraram bem, embora eu saiba que não foram totalmente resolvidos... Faz parte.

Sem abusos sobre a minha qualidade de vida doméstica, eu vou levando esta obra na boa. Para mim é melhor ter um vizinho civilizado e cuidadoso, do que me sentir ameaçada por cobras, aranhas, escorpiões, que vindos do terreno vago, era presenças constantes na minha casa.

De uns dias para cá, tenho acordado sob o canto de um dos trabalhadores da obra, que eu batizei de o "cantor da nossa multidão". Confesso... eu gosto do cantar dele. Ou melhor, eu prefiro o canto dele aos sons dos carros ou das máquinas ruidosas, que são insuportáveis para mim e, mesmo assim, prevaleceriam.

O rapaz possui um voz boa, uma entonação correta, embora tenha um repertório duvidoso. Pelo menos não interpreta aché e nem pagode.Tô no lucro! Às 7h da manhã, sai do peito dele um Roberto, um Raul e alguns sambas que me parecem autorais.

Em homenagem a este ferreiro cantor, que nas condições atuais é "o melhor que tá tendo" nos meus despertares, compartilho aqui uma das canções de Raul Seixas, que ele, o rapaz, nos ofereceu.
Então, a dica para as invasões da vizinhança é ter paciência. Negociar sempre é melhor do que rodar a baiana e brigar. Eu me esforço muito para não sair a rodar minha baiana por aí. Tem valido à pena.

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