terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Filha, não os deixe sozinhos": Passarinhos

"Filha, não os deixe sozinhos", era o conselho que o meu pai nos passava todas as vezes que alguém amado era devastado por alguma perda para a morte. Cresci buscando, se necessário, fazer companhia e confortar as primas e amigas privadas dos pais, às tias e tios privadas dos filhos ou dos maridos, dentre tantos outros em privação eterna de seus amados.

Hoje, num mundo tão cheio de apelos, demandas e compromissos, me vejo só nos meus piores e mais difíceis momentos. A vida continua para todos, exceto para mim e para aqueles que como eu ralam por uma perda para a morte. Para nós a vida pára e nos exclui completamente de qualquer caminho alternativo. A morte é ausência eterna, perda irreversível.

Vive-se um dia (ou cada minuto) de cada vez, enfrentando as faltas espremidas, muitas vezes, pela burocracia do inventário, dos seguros, dos direitos "Pós Mortem". É incrível como a burocracia serve de refúgio besta para a dor da falta. Porém, ela ajuda a postergar a vivência dessa dor. E eu corro atrás da burocracia, como uma saída para sobreviver.

Hoje eu sei que a dor irreversível da perda, da falta, da saudade, da ausência, é desprovida de cálculo, um cálculo que a burocracia faz facilmente. Mas sigo, juntando documentos, tirando cópias autenticadas, inclusive de um atestado de óbito que eu nunca li.  Espanar da minha vida este mofo da burocracia, sei não, pode ser pior, por enquanto.

Nesta época do ano, eu sempre postava neste blog, idéias para as festas de final de ano como aquiaqui e aqui". Eu adorava o final do ano e a chegada do verão: festas, encontros familiares, férias na praia. Só alegrias. Em 2012, o ano que me passou a perna,  não vou enfeitar minha casa, não vou comprar presentes, não quero cozinhar. Não quero evidenciar a perda, a ausência e a falta da filha e da mãe. Às vezes fico impressionada com a capacidade dos humanos resistirem a tanto.

Dizem os chineses: "Felizes são aqueles que enterram seus pais". Eu fui feliz, até há pouco tempo, pude enterrar meus pais. Mas hoje, sou uma infeliz... Não existem palavras para explicar isto.

Lya Luft, frente à perda de seu marido se aproxima um pouco da minha revolta mediante a tal contigência.

"Não falem alto comigo:
andem sempre na ponta dos pés.
Principalmente, não me toquem.
Finjam que não vêem se tenho um jeito absorto,
se nem sempre entendo as perguntas
com a rapidez de antigamente,
se pareço fatigada
e sem graça como nunca fui.
Não me interessa nada o cotidiano nem o místico.
Não quero discutir o preço do mercado
nem os grandes mistérios da eternidade.
Façam silêncio ao meu redor."

Como superar tal amargura? Tom? Passarim? Eles estão à toda nesta época do ano, reproduzindo...



UM VIVA PARA O NOSSO MAESTRO!!!

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