Nesta última viagem, eu arrumei tudo de véspera e sem qualquer planejamento, como se estivesse me adaptando ao "modus operandi"do outro continente, tão antigo e, antes, tão distante. Estranhei minha atitude, ainda que entendendo o meu desleixo. A viagem foi marcada, inicialmente para a primavera de lá: maio. Mamãe adoeceu gravemente e eu desisti de ir. Me conformei em não me reencontrar com a minha filhinha caçula e o meu netinho. Me conformei de não rever a deslumbrante florada das glicínias. Preferi me despedir de mamãe e elaborar a perda dela.
Optei em levar pouca bagagem, cedendo boa parte do espaço da minha única mala para os presentes brasileiros aos meus amados, que por lá moram, distantes. E afinal, mulherzinha que eu era, compraria com prazer tudo o que me faltasse por lá. Eu não sabia de nada!
No dia da partida, ela veio se despedir de mim, na correria que os compromissos dela exigiam. Era muito cedo, uma manhã bonita e cheia de luz. Ela me olhou com a imensidão dos seus olhos azuis, da cor das minhas amadas glicínias, e com a grandeza do sorriso de seus lábios e me disse: "Noh Pabinha, você já está indo hoje! Me esqueci de separar as roupas do meu filho, me esqueci de comprar as paçoquinhas dele para você levar. Ai, putz, ando muito ocupada..."eu respondi: "não se preocupe filha, já separei as roupas dele, comprei para ele e para a sua irmã as paçoquinhas e a farinha de pão de queijo. Já está tudo dentro da mala". Ela veio me abraçou apertado e disse numa só frase e de um só folego: "Pabinha, você é a melhor mãe do mundo, te amo, boa viagem". E saiu correndo para o trabalho gritando: "dá um beijo no meu pai".
Esse foi meu ultimo encontro com ela, meu ultimo abraço nela. Essas foram as ultimas palavras que eu escutei dela. Eu nem imaginava que entre nós duas, ali naquele momento, seria tudo tão "ultimo".
Eu não sei de nada!
Video produzido por Aluizio Salles Jr em outubro de 2012
Claudia tenho acompanhado voce sempre, me emociono tanto que fico sem palavras, gostaria de escrever umas palavras bem bonitas de conforto para você, mas não as encontro. Um abraço grande de solidariedade e carinho,
ResponderExcluirMayla
Oi Mayla as palavras faltam mesmo. Mas as que você manifesta já são suficientes para me trazer algum conforto. obrigada
ResponderExcluirOi Cláudia, acho incrível tua vitalidade nesse momento tão sensível e fico tocada com cada post. Não conheci a Ciça pessoalmente, mas através das mensagens, do que tenho ouvido e lido, já sinto que a conheço e que poderíamos ter sido amigas. Vejo o quão querida ela foi e é, e toda a sua família também. Mesmo na perda, vocês emanam Vida. Saiba que me sinto bem próxima de você, sobretudo nesse momento, apesar de nos falarmos pouco. Um abraço com carinho. Gisele
ResponderExcluirCláudia, nunca tivemos conversas íntimas, mesmo porque somos íntimas através dos nossos filhos, principalmente Pat e Valentina, que sempre senti nossas. Não tenho a pretensão de que minhas sempre poucas palavras te tragam conforto, apenas companhia. Estou aqui perto! bjos, Glaucia.
ResponderExcluirGláucia e Gisele, eu sei que vocês estão por perto. Obrigada pelas palavras de conforto.
ResponderExcluirSem palavras.... Vcs sao iluminados e td nao se passa de sinais, doloroso mas conforta o espirito. Quero muito lhe ver. Amo vcs.
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