segunda-feira, 21 de maio de 2012

Quem sou eu para falar de vinhos?

Já expus neste meu blog algumas histórias sobre o meu avô materno. Mas creio que, considerando a sua importância na minha formação, falei pouco sobre ele. Vovô foi muito presente em toda a minha vida. Sempre me abrigou e cuidou de mim com todo amor e carinho, sobretudo quando meu pai esteve preso em 1964. Nunca esquecerei de sua presença em minha vida, sobretudo nesta época.  

Além de tudo o que o vovô me ensinou na cozinha e em sua loja de sapatos, onde eu aprendi, aos 10 anos, a atender clientes e a registrar e contabilizar as vendas, ele me presenteou com o apreço ao vinho. Putz, este homem viveu 90 e tantos anos, curtido em vinho e em paixão por sua esposa, que não era a minha avó, que eu nem conheci. Ele se casou, ao ficar viúvo, com a minha Dindinha querida, a paixão de sua vida e a avó materna da minha vida.

E era assim, a regra dele, em todos os dias da sua vida, no almoço e no jantar: beber uma taça de vinho, oferecida pela Dindinha, que também nos servia, meia taça, misturada com gelo, água e açúcar. Eu adorava tal ritual.

Naquele tempo, não tínhamos à mão qualquer vinho importado. Existiam exceções como na vez em que meu pai, ao voltar de sua única viagem á Paris, trouxe um Chateauneuf du Pape, que foi muito badalado e degustado, em uma só garrafa, por uns 20 amigos da família. Certamente, neste contexto, ninguém deve ter percebido diferenças entre os vinhos de garrafão e aquele vinho francês tido, à época, como o melhor de todos.

Pausa para confissão: Fui lá na França, em Chateauneuf du Pape, recentemente, em busca de tal história. Me esbaldei. Pude constatar que, mediante ás minhas referências atuais, ele é um ótimo vinho. Mas será que entendo disto?

Os vinhos brasileiros que minha família servia aos convivas, naquela época, eram secos, muito rústicos, vinham em garrafões, envolvidos em vime. Era a única opção decente naquela época.


Conto esta história toda para explicar que ela me trouxe muito prazer. Porém não me deu o conhecimento necessário para avaliar a infinidade de ofertas de vinhos que temos hoje. Então, ao apreciar um vinho, sigo acreditando no meu paladar e em minha sensibilidade histórica. Não tenho qualquer compromisso com as safras, nem com as notas e nem tampouco com as "lagrimas". Se me preocupasse com isto e tudo mais, não ia apreciar tal bebida como a minha história impõe. Ela previlegia a convivência e o compartilhamento entre amigos, a despeito das regras definidas sobre o assunto.

Trago comigo, como regras básica, que um vinho produzido com qualquer uva, de qualquer nacionalidade, que custe menos de 30 reais, é bem rudimentar. Eu não vou aproveitar do sabor dele. Não percebo muita diferença entre aqueles que custam mais de 100 reais, uma vez que não sou tão sofisticada, treinada e nem tenho o paladar tão sensível assim. Tenho lá as minhas preferências. Adoro os espumantes brasileiros, desde que sejam bruts. Afora os espumantes, prefiro os vinhos secos tintos aos brancos. Gosto dos chilenos, argentinos e franceses Tenho predileção pelos Carmeneres e Malbecs. Adoro os vinhos com um bom corte de mistura de uvas.

Misturas que tragam a palavra "seleção", eu fujo, pois, embora tal expressão pareça digna, sei que se trata da mistura dos restos das uvas, que não serviram para nenhum outro uso mais nobre. Dispenso garrafas de fundo reto. Os fundos das garrafas tem de ter aquela entradinha, a qual facilita a decantação e retenção de resíduos. Vale verificar no rótulo se as bebidas foram produzidas e engarrafados no mesmo lugar, pois isto dá mais credibilidade ao produto. Rolhas que não são de cortiça (do tipo de borracha), eu desconfio, evito e até dispenso. As garrafas sem rolhas, processadas com tampas de rosca, nem pensar... Dispenso. Posso estar cheia de preconceitos. Mas como entendo pouco, prefiro seguir a tradição.

Graças à um grande amigo, que aprecia, conhece vinhos de vários cantos do mundo e que vai e volta a Portugal, trazendo consigo e compartilhando comigo as delícias de lá, me apaixonei pelos vinhos portugueses.

Sobre harmonização de vinhos com as comidas, nem vou comentar. Creio que quem gosta de comer bem como eu, sabe muito bem que bebida deve acompanhar e valorizar qualquer sabor.

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