quinta-feira, 23 de maio de 2013

Que dia! Bolo de milho para Sônia

Que dia!

De véspera, ao sair da análise, retomada às duras penas, fui recebida no novo lar da irmã mais velha com deliciosos salgadinhos e boas conversas. Foi uma vitória sair de casa para uma visita, após tantos dias de reclusão. Combinamos um encontro para o final do dia seguinte, na procissão de Santa Rita. É como eu digo: seu meio cética, mas cultivo meus valores cristãos e sinto uma paixão por esta Santa, desde criança. Vovó Margarida e as minhas tias queridas eram devotas.

Daí me lembrei da esperada visita da madrinha, que há décadas eu não abraçava, no mesmo horário da procissão. Orientei minha ajudante a fazer um bolo, pão de queijo e por à mesa os delicados aparelhos de chá e café presenteados pelas tias, para receber a cara visita.

Comecei o dia sob explosões de rojão, anunciando o dia da Santa das rosas e das causas difíceis. Da varanda da minha casa, acompanhei por horas a chegada dos fieis, trazendo flores, recebendo benções acendendo velas, buscando soluções para as suas aflições. Pensei nas minhas, revivi todas e chorei muito. No final da manhã resolvi ir até a igrejinha de Santa Rita, não sei bem por quê. Alí somente refleti, chorei, mas não pedi nada. Se a Santa me acompanha, ela sabe do que eu preciso. Me encantei com as barraquinhas de delícias na rua e com a alegria das muitas pessoas, fiéis ou não, que por ali circulavam. Entendi, mais uma vez, que a fé direcionada aos santos pode ser uma festa.

Nos encontramos, eu e minha madrinha, sob forte emoção. Rodeadas pelos móveis feitos pelo nosso avô, pela louça das nossas mesmas tias devotas, sob o som dos hinos cantados na missa da Santa, o som da banda de alerta para o início da procissão, recuperamos um tanto da nossa história esquecida. Ao aproximar a hora da partida, começou a chover forte. Nunca vi isto! chover em maio! Mesmo assim a procissão saiu. Acredito que não existe intempérie que atrapalhe manifestações de fé e alegria. Ficamos abraçadas e comovidas, observando da varanda a passagem das muitas velas iluminando as mãos daqueles que oram por Santa Rita. A madrinha me pos no colo e cuidou de mim, como fez, desde o nosso primeiro encontro e durante muitos anos da minha nenenzice.

Os móveis do vovô Pedro, que sempre me acompanharam.

E aquela mesma explosão de fogos que acendeu este meu dia, veio termina-lo. Agora, com muitos desenhos iluminando o céu de nós duas. Foi um dia que se desenvolveu por enlaces inesperados, por boas  e inacreditáveis coincidências ( será?). Coisas da Santa.

Em homenagem a querida madrinha, eu repasso a receita do bolo de milho que é o seu preferido. Eu não sabia disto, mas a Santa sabia. Ela adorou a delícia.

Para uma forma redonda, eu retiro os grãos de 4 espigas de milho verde e bato no liquidificador com uma lata de leite condensado, 4 ovos inteiros, 100 g de margarina e uma colher de sobremesa de fermento em pó. Disponho sobre a forma untada e levo ao forno pré aquecido a 180 graus por 40 minutos ou até dourar.

E enquanto eu escrevo esta postagem, a minha filhinha interpreta Shubert. É o segundo movimento da Sonata em la maior, aqui interpretada por Sofia Brunelo, que compartilho.



2 comentários:

  1. Que delícia de texto, Cláudia!
    Estes encontros com pessoas com as quais nos ligamos desde a raiz, rodeados por objetos de pessoas queridas que já se foram, nos fortalecem, não é?

    Um beijinho com florzinhas de Santa Rita,
    Júlia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Júlia, só hoje vi seu comentário. Me afastei da escrita por um tempo, pois apesar de me ajudar a elaborar as perdas, é muito doloroso vivencia-las aqui.Mas hoje decidi voltar e seu comentário me deu mais força. Obrigada e um beijão

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