terça-feira, 30 de outubro de 2012

Histórias de nos duas: ultimo aniversário

No dia do aniversário dela,  no maio ultimo, resolvi sair para lhe oferecer presentes, numa atitude bem muherzinha. Ela merecia, mesmo que fosse num dia de muita chuva, com minha mãe mal num CTI e eu perdida, mediante a iminência de vivenciar a minha total orfandade.

Ela queria muito um relógio bom, bonito e legal. Eu me abri para o que desse e viesse. E ela me acolheu como se eu é que estivesse a presentea-la. Mal sabia ela que era ela que me acolhia. Após idas e vindas na relojoaria, ela escolheu o mais lindo de todos os relógios oferecidos, aquele que era a cara dela e do qual ela nunca mais se separaria, até morrer. Saímos da loja orgulhosas com a escolha precisa. Presente dado, presente recebido, só sorriso entre nós duas. Dali, saimos para escolher um presente para a minha nora amada e achamos. Cafezinho, despedida do lugar e tomada de novo rumo.

Chovia muito nesta tarde e eu ainda queria estar com a minha mãe moribunda. Ela, sorridente, foi comigo e antes de tudo, me levou para mais um café, buscando me preparar para a visita horrível a uma mãe que se vai. E ela me confortou. Ficamos ali, nós duas, vendo a chuva e conversando sobre banalidades. Ela estava fazendo 32 anos, eu feliz e orgulhosa com isto, mas convivendo com fatalidade de perder minha mãe, como a perdi, um mes depois. E ela, minha filha, ali comigo, de mãos dadas, entendendo tudo e me confortando.

Neste dia de aniversário, ela corajosamente encontrou-se com a sua avó, deu um beijo nela, rapidamente, num triz choroso. E saiu correndo do CTI. Me esperou fora do hospital. Daí, lentamente voltamos para o nosso lar, buscando superar isto. Nos reencontramos na nossa casa, num dia muito importante para nós duas. Dia de comemoração do primeiro em que eu a vi, ou melhor, nos vimos. Dia em que pela primeira vez ela mamou em mim.

Para comemorar os 32 anos da minha mais velha e no aconchego do nosso encontro adulto, fizemos, naquele dia, uma boa massa, tomamos um bom vinho, compartilhados com nossos amores e agradecemos por estarmos juntas.

Eu não imaginava que seria somente por menos de mais um ano. Cecília...


sábado, 20 de outubro de 2012

Jardim seco e a sanfona muda


"Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo"
Adélia Prado

De repente, minha casa, que constantemente amanhecia, foi tomada por uma noite nublada e eterna. O espaço físico dos meus adoráveis encontros, se desfez em um segundo. Até as flores daquele jardim, outrora amado, se apagaram e ficaram completamente desimportantes. Afinal, a mais preciosa delas se foi. E desde então não pude retornar ao jardim, até ontem. Ao retornar, o desamor por ele se estabeleceu.

Sei não... desde a chegada da grua, algo me dizia que as coisas não iam bem por ali. Mas não imaginava que aconteceria o pior, como aconteceu. Nunca me dei bem com as separações e as perdas, embora soubesse que poderia vivenciar todas elas, durante a minha vida, menos uma: exatamente esta que acaba de acontecer e de uma forma definitiva.

Seria bom se eu pudesse ouvir, um pouquinho que fosse, aquele irritante som de sanfona no meu jardim!


terça-feira, 9 de outubro de 2012

O impossível acontece: Um adeus impensável

Tempo de dor, de sofrimento e de recolhimento. Tempo de uma mulherzinha destruída. Algumas delas passam por isto. Eu estou passando. Só espero e torço para que essas mulheres sobrevivam. Eu estou me esforçando, às duras penas. Devo sobreviver, pelos outros filhos maravilhosos e por meu neto, pedaço desta que se foi. Eu tenho a honra de tê-los comigo.
Te amei, mesmo antes de você chegar, te amo até hoje e te amarei sempre.
E sempre que olhar para o infinito do mar, o meu lugar de olhar preferido, lá também vou te encontrar, minha filha amada.


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