sábado, 20 de outubro de 2012

Jardim seco e a sanfona muda


"Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo"
Adélia Prado

De repente, minha casa, que constantemente amanhecia, foi tomada por uma noite nublada e eterna. O espaço físico dos meus adoráveis encontros, se desfez em um segundo. Até as flores daquele jardim, outrora amado, se apagaram e ficaram completamente desimportantes. Afinal, a mais preciosa delas se foi. E desde então não pude retornar ao jardim, até ontem. Ao retornar, o desamor por ele se estabeleceu.

Sei não... desde a chegada da grua, algo me dizia que as coisas não iam bem por ali. Mas não imaginava que aconteceria o pior, como aconteceu. Nunca me dei bem com as separações e as perdas, embora soubesse que poderia vivenciar todas elas, durante a minha vida, menos uma: exatamente esta que acaba de acontecer e de uma forma definitiva.

Seria bom se eu pudesse ouvir, um pouquinho que fosse, aquele irritante som de sanfona no meu jardim!


11 comentários:

  1. Cláudia, conviver com esta dor não é moleza. O que ajuda a ir em frente são os amores, os amigos, as pessoas queridas. Isto você tem. Mas o caminhar é longo, é matar um leão por dia. Saiba que estamos por aqui. Um beijo grande.

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  2. Cláudia, muito lindo e triste o que vc escreveu hoje. Receba o nosso carinho e solidariedade nesse momento tão difícil de luto recente. Sei que a saudade sempre estará em seus corações, mas espero que a dor vá se desvanecendo até se transformar de uma nuvem cinza em uns lindos estratos sempre presentes num céu azul, como uma doce lembrança daqueles lindos olhos no coração de mãe.
    No dia 10 nasceu minha neta Clarissa, que eu já havia apelidado há uns meses carinhosamente de Sissa, lembrando daquela Ciça espevitada, coleguinha do Augusto. Considere o apelido de minha netinha como uma homenagem à mulher, mãe e artista Cecília que eu vinha acompanhando desde que a descobri no feicebuque.
    Abraços nossos a todos vocês, de Edelweiss e Joaquim.

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  3. Nina, linda homenagem. Obrigada. Espero em breve ter forças para conhecer a sua Sissa. bj

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  4. Mana, obrigada por sua solidariedade. Imaginava que o tamanho desta dor era imenso. Mas não sabia que era tanta. Sinto por nós duas e tantas outras mães que passam por isto. Espero conseguir sobreviver e ter alegrias outra vez. Certamente nossos amigos vão nos ajudar. Um bj.

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  5. Peno por não poder acolhe-la nesse momento tão difícil.
    Queria minha casa pronta, pintada de alaranjado brilhante,e nos duas no balanço do jardim cheio de flores.
    Dias melhores virão e então poderemos sentarmos no jardim com nossas boas lembranças!
    Bjs

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  6. Irmazinha, este vai chegar... te amo.

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  7. Cláudia,

    Fiquei muito tocada pelas suas palavras, por cada uma delas e penso em você constantemente. Sou amiga do Celinho, fui aluna do seu marido e sou leitora do seu blog. Estive perto de você nos últimos acontecimentos, nos últimos tristes encontros, apesar de você nem saber quem sou. Estive ali, por perto, sempre lembrando de um encontro do passado, uma festinha à qual fui em sua casa, essa antiga casa laranja-brilhante. Foi quando vi a Ciça pela primeira vez, ela já era mãe, morava com vocês... Isso faz mais de cinco anos... talvez seis...sete... por aí. Lembro-me de perguntar a uma amiga: quem é aquela moça?! A amiga respondeu: "É a Ciça, irmã mais velha do Celinho". Eu perguntava pois estava impressionada com a beleza e a luz da Ciça - algo fora do comum. Mas naquele dia (e desde então) fiquei muito impressionada, também, com a força e a beleza da sua família... Cada um mais lindo e especial que o outro, todos cheios de amor um pelo outro e cheios de amor pra dar, abertos, acolhedores. Esses "lugares de amor", seus filhos, os três, são frutos do "lugar de amor" que são você e o Jeff, belo casal. Vocês construíram uma família alaranjado-brilhante, que traz o amanhecer, o amor, em cada gesto, mesmo na tristeza profunda. A casa, em si, nem foi o que me chamou a atenção naquele dia. O amanhecer estava nos sorrisos, na luz do olhar de cada um de vocês. Vejo a família de vocês com muita admiração, desejando, um dia, criar uma família unida, abraçada, cheia de amor. Olhar para vocês, mesmo hoje, na tristeza, me faz desejar isso, pois sei que o amor dessa família, de um pelo outro, é algo eterno, forte, dissipante. Hoje, o que tenho a te dizer é parabéns por ter conseguido criar uma família tão linda, por ter criado "lugares de amor" que podem se deslocar e sobreviver, por ser, você mesma, um amanhecer. Quero te agradecer, de coração, pela inspiração. Te admiro muito. Um beijo alaranjado-vermelho!

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  8. Júlia, obrigada pro suas palavras. Elas me confortam.

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  9. Cláudia

    Tenha-me com você em absoltua solidariedade por sua dor e saudade. Sei que saberá buscar uma forma de superar e seguir em frente.
    Sua prima: Magui

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  10. Soube agora e meu coração de imediato se entristeceu. Pela Ciça, que poucas vzs vi e muito por vc. E fiquei assim doendo a sua dor, te desejando um afago e um carinho. E me assusto também... realmente o impensável impossível às vzs bate as nossas portas. Beijo, carinho...Cláudia

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