segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A borda do buraco

Mais de dois anos sem publicar qualquer coisa por aqui.

Escrevi algumas coisas mal escritas, desinteressantes, indignas, vazias ou secas. Não as publiquei. Elas me envergonham.

Na última noite de insônia, a vontade de voltar para escrita reapareceu. Uma vontade mais edificante e digna, do que das últimas vezes. Muitas idéias foram surgindo nos meus pensamentos e me tirando o sono. São tantas idéias, que nem caberiam numa postagem só.

Anotei todas para desenvolver em breve, quem sabe!

Quis, porém dar um inicio a conversa, buscando não perder o fio e nem os seus laços. Creio que começar pela borda do buraco, que insiste em ser um caminho, para muitos de nós, pode ser uma boa tentativa.

Caminha-se nessa borda tortuosa, como se estivesse sem pernas, com muita dor e sofrimento, fazendo-se um esforço imenso para não cair no buraco. Trata-se de um orifício grande e irregular.

Vai-se bordejando o furo, acreditando-se que não vai cair nele, mas sim, se afastar dele.

Por vezes as suas dimensões aumentam; se apresenta com maior área e maior profundidade. Daí a beirada diminui e fica mais difícil seguir em frente. Quer dizer, não em frente, de fato, mas em círculos ou em espirais. Chega-se sempre no mesmo lugar, ou acima, ou abaixo dele.

Raramente, pode ocorrer o contrário: a borda se expandir, aumentando a largura do caminho. Daí atravessa-se com mais facilidade e com menor risco de cair dentro da grande fenda.

Em algumas raras ocasiões, surge um atalho para sair da borda. Mas ele desaparece mais rapidamente do que surge. Melhor assim. Se o atalho fosse bom, não existiria o caminho.

Em outras situações, cai-se no buraco. Mas, após o sufocamento inicial, constrói-se uma escada para sair dele e dar uma respirada. É uma escada difícil de construir, mas possível de atravessar. Daí, se sai.

Em vários momentos, o desejo é afundar no buraco e de lá, nunca mais sair. É a exaustão de bordejar e sempre voltar para o mesmo local, ou próximo dele. É querer descansar da dor e do sofrimento. Mas a natureza, na sua sede de sobrevivência muda este destino. E daí se sai, atravessa-se, ainda que temporariamente.

Hoje eu encontrei um trilho. Quem sabe eu chego, nem que seja por alguns segundos, num lugar bem distante do buraco e ainda lá, eu "hei de ouvir cantar uma sabiá, cantar uma sabiá".



Compartilho esta emocionante interpretação de Carminho. da belissima canção "Sabiá" do Chico e Tom. Infelizmente, a gravação está meio cortada e não é a mesma do filme do Chico. Quem assitiu esse filme sabe é de arrepiar e chorar.

17 comentários:

  1. Cláudia,
    Fico feliz de abrir a caixa de entrada, e ver um email do seu Blog. Tão bom ler suas matérias. Esta energia estava acumulada e estou aguardando lindas postagens. Obrigada por dividir tantas experiências. Beijos

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    1. E eu estou alegre de ter conseguido destrancar esta "porta" fechada e ver pessoas como você me ajudando a abri-la. Obrigada. bj

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  2. Respostas
    1. Obrigada. Mas não te identifiquei, Assina aí seu comentário, por favor.

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  3. Claudinha, fiquei muito emocionado ao ler seu post. Sabemos como o caminho é difícil, árduo e que exige coragem para iniciá-lo. e fazê-lo existir em uma forma única Suas palavras e sua coragem em desbravar o desconhecido dependem mesmo do método e você sabiamente não está prometendo resultados, apenas bordejar, a única forma possível. Sua escrita e o percurso que surgir daí são muito importantes para nós. Beijo

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    1. E eu estou emocionada aqui, ao ler seu comentário. Vamos seguindo juntos, meu bem. bj

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  4. Fico feliz de ver você lutando tão corajosa!
    Um bordejar de cada vez! Beijim, Tchu.

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  5. Que delícia poder ler seus textos de novo, Cláudia! Obrigada por esta notícia ótima. E que recomeço maravilhoso! Lindo texto. Que venham muitos outros. Vou ficar de olho no blog novamente. Um beijo grande

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  6. Obrigada Carlinha. Sua leitura e seus comentários são muito importantes para mim. Me confortam. bj

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  7. Cláudia que bom retorno! Adorei o texto. Me identifiquei com ele pelas coisas que estou vivendo. Bodejar sem prometer resultados imediatos. Obrigada! Bom retorno. Bjo carinhoso , Teresa Guabiroba

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  8. Teresa, como diria um amigo: "a vida é para profissional". Talvez, bordejar seja uma das disciplinas do curso profissionalizante. Que você possa atravessar essas coisas que você está vivendo. Um beijo e obrigada

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  9. Claudia não temos pressa, cada um tem seu tempo, mas com esse post , tenho certeza e alegria, que você está chegando, de mansinho, mas com toda a força e beleza que você sempre nos passou, vamos continuar te aguardando, beijos
    Mayla Braga

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  10. "Abyssus abyssum invocat"
    É isso aí Claudinha.
    Que a pluma (ainda que pesada) seja nossa arma.
    G. C.

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    1. E quanto ao Sabiá, "lá na gaiola fez um buraquinho, voou, voou, voou, voou"...
      Bisous

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    2. É isto Gustavo. Você, como sempre, rápido, sábio e insprirador nas suas palavras. obrigada. bj

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