É assim que a vida segue: cada dia que passa, um pedaço da história, que estava guardado no fundo da memória, vem à tona e tornam as ausências ainda mais presentes. Muitas vezes a lembrança decorre do reencontro com algum objeto esquecido em alguma caixa de mudança ou em algum canto do antigo lar. O antigo lar continua sendo desmanchado, lentamente, na medida da capacidade de suporte em elaborar as perdas. Os últimos objetos estão sendo retirados, seguindo novos destinos, entrando em outras histórias. Tento me despedir das histórias confinadas neles. São momentos em que fico meio em estado de choque, como se eu estivesse dentro de um filme, cujo roteiro está longe de fazer parte do mundo que eu imaginava como real. Por vezes eu choro ao me deparar com algumas cenas deste filme triste.
Por falta de espaço e condições adequadas no novo lar, doei quase todas as minhas orquídeas para as irmãs. Estas são muitas e compunham um canto adorável do antigo lar.
Antes de me separar delas, fui observando uma a uma, como que me despedindo. Verifiquei que duas estavam soltando o pendão da florada. Num triz, tomei-as de volta para florirem no novo lar. Só depois de algum tempo me dei conta que essas duazinhas orquídeas tão saudáveis eram as únicas pertencentes à minha filha ausente. Mistérios da vida e da morte...
Compartilho uma maravilhosa canção, cuja lembrança me foi trazida, recentemente por um amigo desta filha, ao conversarmos sobre luto e melancolia: À Flor da Pele ou O Que Será, de Chico e Milton e , claro, interpretado pelos dois, arrasando.
Claudia , acompanho você na sua dor e perda. Seus textos fazem o coração da gente ficar doído e sinto ao mesmo tempo a certeza de que você é forte mas é difícil viver com esta saudade. Bjs da prima .
ResponderExcluirCara M. Inês é muito difícil. Os textos ajudam a elaborar, mas ainda não resolvem. Obrigada por sua carinhosa presença.
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