quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Olhos nos olhos

Tenho sonhado com os amados que partiram.

O pai, aparece no jardim do Retiro, cuidando das palmas e das rosas, suas flores preferidas. Meia dúzia de galinhas Isa Brown o seguem pelo caminho. Por vezes ele me olha e sorri. Por vezes ele me abraça e chora comigo.

A mãe sempre está sorrindo de um jeito calmo. Não se aproxima de mim. Não chora. estende as roupas no varal. Por vezes, deito com ela de mãos dadas, na cama de casal da minha infância, onde eu dormia entre os dois: pai e mãe.

A filha sempre está sorrindo. Sempre está distante. Grito o nome dela e ela não me olha. Continua sorrindo para a paisagem. Me aproximo, peço permissão para tocá-la. Sua imagem embaça. Por vezes vira uma fotografia, por outras vira uma estátua com olhos de zumbi.

Num dos sonhos ela não era ela. Era uma sósia dela. Chorei no sonho de tanta saudade de nós duas. Pedi a moça para ser a double da filha. Ela topou. Mas ela tinha olhos escuros! Propus que ela usasse lentes cor do mar. Ela topou.Acordei e me pus a chorar.

Se perder no olhar da filha é uma experiência indescritível de amor. Vivi isso com a minha filha viva. A outra filha estava ali entre nós, no começo dessa vivência. Mas não o seu olhar e como eu desejaria me perder naquele olhar!

Me encontrei nos olhos da filha. Eu vi naqueles olhos, o meu olhar. Eu era ela. Ela estava em mim. Penso que as mães e filhas, que também participaram desta experiência, se emocionaram como eu.

A montagem do mosaico é de Simone Pazzzini e as fotos, do Projeto "Devastação" de Paula Huven (BH, maio de 2014), do qual tive a honra de participar.









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