De véspera, ao sair da análise, retomada às duras penas, fui recebida no novo lar da irmã mais velha com deliciosos salgadinhos e boas conversas. Foi uma vitória sair de casa para uma visita, após tantos dias de reclusão. Combinamos um encontro para o final do dia seguinte, na procissão de Santa Rita. É como eu digo: seu meio cética, mas cultivo meus valores cristãos e sinto uma paixão por esta Santa, desde criança. Vovó Margarida e as minhas tias queridas eram devotas.
Daí me lembrei da esperada visita da madrinha, que há décadas eu não abraçava, no mesmo horário da procissão. Orientei minha ajudante a fazer um bolo, pão de queijo e por à mesa os delicados aparelhos de chá e café presenteados pelas tias, para receber a cara visita.
Comecei o dia sob explosões de rojão, anunciando o dia da Santa das rosas e das causas difíceis. Da varanda da minha casa, acompanhei por horas a chegada dos fieis, trazendo flores, recebendo benções acendendo velas, buscando soluções para as suas aflições. Pensei nas minhas, revivi todas e chorei muito. No final da manhã resolvi ir até a igrejinha de Santa Rita, não sei bem por quê. Alí somente refleti, chorei, mas não pedi nada. Se a Santa me acompanha, ela sabe do que eu preciso. Me encantei com as barraquinhas de delícias na rua e com a alegria das muitas pessoas, fiéis ou não, que por ali circulavam. Entendi, mais uma vez, que a fé direcionada aos santos pode ser uma festa.
Nos encontramos, eu e minha madrinha, sob forte emoção. Rodeadas pelos móveis feitos pelo nosso avô, pela louça das nossas mesmas tias devotas, sob o som dos hinos cantados na missa da Santa, o som da banda de alerta para o início da procissão, recuperamos um tanto da nossa história esquecida. Ao aproximar a hora da partida, começou a chover forte. Nunca vi isto! chover em maio! Mesmo assim a procissão saiu. Acredito que não existe intempérie que atrapalhe manifestações de fé e alegria. Ficamos abraçadas e comovidas, observando da varanda a passagem das muitas velas iluminando as mãos daqueles que oram por Santa Rita. A madrinha me pos no colo e cuidou de mim, como fez, desde o nosso primeiro encontro e durante muitos anos da minha nenenzice.
Os móveis do vovô Pedro, que sempre me acompanharam.
E aquela mesma explosão de fogos que acendeu este meu dia, veio termina-lo. Agora, com muitos desenhos iluminando o céu de nós duas. Foi um dia que se desenvolveu por enlaces inesperados, por boas e inacreditáveis coincidências ( será?). Coisas da Santa.
Em homenagem a querida madrinha, eu repasso a receita do bolo de milho que é o seu preferido. Eu não sabia disto, mas a Santa sabia. Ela adorou a delícia.
Para uma forma redonda, eu retiro os grãos de 4 espigas de milho verde e bato no liquidificador com uma lata de leite condensado, 4 ovos inteiros, 100 g de margarina e uma colher de sobremesa de fermento em pó. Disponho sobre a forma untada e levo ao forno pré aquecido a 180 graus por 40 minutos ou até dourar.
E enquanto eu escrevo esta postagem, a minha filhinha interpreta Shubert. É o segundo movimento da Sonata em la maior, aqui interpretada por Sofia Brunelo, que compartilho.